Michelle Vargas: junho 2011

... ESPAÇOS DE PASSAGEM...

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Antes era apenas eu em uma linha reta, mas, que de repente, variou. Uma nova surgiu e acreditei que com esta seríamos paralelas. Mas durante o percurso, a outra se fez parábola e sua trajetória mudou para uma direção oposta. Sozinha novamente. Tudo se misturou e não sou mais linha reta. Onde está a simetria? Caí em uma confusão de ângulos obtusos e formas contraditoriamente disformes. Tudo não passa de um caos. Acho que sigo uma espiral. Mantenho uma direção, mas sem saber exatamente para onde estou indo. Vou apenas seguindo. Quem sabe não tenha fim... Mas devo manter um sentido. Seguirei em círculos para chegar em algum ponto, se é que há?

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Colagem tamanho A4

Escultura- cerâmica

giz pastel sobre papel cartão A3

nanquin sobre papel Canson A3

nanquin sobre papel Canson 40cmX40cm

aquarela sobre papel Canson

monotipia 1 /2010

monotipia 2 /2010

monotipia 3 /2010

monotipia 4 /2010

monotipia 5 /2010

monotipia 6 /2010

"o sentido da espiral indaga a alma no espaço virtualmente coletivo"

Uma espiral é um movimento harmônico e imprevisível, tridimensional, que se pode expandir em todas as direções, e por isso mesmo não isento de contradições. É uma forma vaga e variada, que inspirou aquela idéia que temos da espiral como um desenvolvimento numa equação matemática e numa proporção áurea. Sua forma, entretanto, não precisa ser de uma geometria perfeita, pois essa idéia de perfeição seria uma abstração. Imaginemos uma espiral que pudesse desdobrar-se em vários pontos e planos, livre da linearidade bidimensional do papel que faz parecer natural tudo ser plano. Imaginemos também que tocasse outras espirais, e a cada ponto surgissem ondas animando os mundos, como se várias pedras fossem atiradas quase simultaneamente na superfície de um lago.
Assim, o desdobramento da espiral, entre uma função matemática e um desenho aleatório, entre o expandir-se ao infinito de suas possibilidades e o convergir a um centro - no limite a um infinito interno que tende a um ponto de geração, põe em contato diversas visões de mundo. Visões de mundo que se agrupam e se dissolvem, como as imagens breves em um espelho d'água convidando o olhar ao repouso e ao movimento, à percepção de um ponto gerador que transborda. Essas imagens são segredos, que nos convidam de um modo ora suave ora intenso, aos lugares que as geraram e aos lugares para onde transbordam.

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Após recuperar a plenitude da minha visão em uma cirurgia de catarata, senti a necessidade de expandir e exteriorizar esta experiência que foi/tem sido reacordar para o mundo. Para o ‘meu’ mundo, principalmente. Aquele que fui buscar nos meus lugares mais recônditos e que são instrumento e ao mesmo tempo tema central do meu trabalho. Não entendo minha pintura como abstrata. Lembro-me de Frida Kahlo quando dizia que sua pintura era realista, pois pintava a sua realidade, embora ela tivesse sido rotulada como surrealista. E também de Pollock, que sabia muito bem onde e como respingar sua tinta e negava veementemente o acidente mesmo em sua fase mais abstrata. Minha pintura é figura(tiva). Como Frida, pinto a minha realidade e como Pollock penso meu gesto, raciocino minha pintura. Também não acredito no acidente embora às vezes pratique o que chamo de ‘acidente controlado’.
Olhos, mundos explodindo, cidades, esperma e útero, pares, unidades, olhos, mais olhos, muitos olhos, pontos, pontos finais, pontos iniciais... pontos em que eu tento pôr vida assim como em linhas que andam, circundam, espiralando-se: minhas cores-forma. Faço do movimento minhas formas. Tento mantê-las vivas na expansão destes movimentos que tornam¬¬–se figuras: as espirais, esta forma arquetípica que me permiti encontrar. E libertar. Não pensei no símbolo. Não o racionalizei. Foi de fato uma expressão genuína desta minha nova fase com meus novos olhares e olhos. A espiral como forma foi parto verdadeiro, dolorido... E através das espirais e garatujas revisitei meu passado, meu velho mundo de cores opacas e o trouxe para o presente, este meu presente mais vibrante e nítido. Voltei ao apertado útero que dividi com minha irmã gêmea e renasci. Aos poucos. Mas em constantes explosões. Neste resgate do passado há algo que surgiu como uma escrita hieroglífica, símbolos gráficos que só eu entendo, assim como só eu entendia a linguagem da minha irmã, antes da nossa ‘fala-formal’. E vice-versa. Chego então ao presente, trazendo a reboque meu passado, sem mágoas ou angústias, mas com alguma ansiedade em (re)descobrir mais de mim. Sempre. Faço da pintura minha terapia. Mas também é meu ofício: um ofício-terapêutico. E divido isto que é meu diário, os registros de uma constante busca por respostas que se dão de forma imagética, pois acho que acima de tudo meu trabalho é um diálogo. Vejo no olhar do outro, nesta possível e, para mim, necessária interação, uma espécie de fechamento do processo, que obviamente continua em aberto, já que entre mim e a pintura ainda há também um longo diálogo a ser desenvolvido. Eu diria que é um trabalho de Emersão, fazer emergir.
A pintura é meu instrumento sagrado, uma pá com a qual cavo sulcos profundos com o objetivo de trazer à superfície o meu essencial. E compartilhá-lo.

Michelle Vargas

... ESPAÇOS DE PASSAGEM...

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